Com o objetivo de podermos discutir e trocar informações e idéias, vai aí a primeira coletânea de artigos que tratam de um momento a que todos nós devemos estar atentos: as revoltas do povo com o objetivo de derrubar governos ditatoriais que queriam se perpetuar no poder (Tunísia, Egito, Líbia...).
Se tiverem outros textos que considerem interessantes sobre o assunto, o espaço está disponível!
Boa leitura...
“A liberdade é defendida com discursos e atacada com metralhadoras." Carlos Drummond de Andrade
A VERDADE SOBRE O ATUAL LEVANTE REVOLUCIONÁRIO NA LÍBIA
Seguindo os passos da Tunísia e do Egito, o povo líbio se levanta contra o regime de seu país, exigindo a saída do atual líder Muammar Khadafi. Isso tem sido visto de diferentes pontos de vista em todo o mundo. Particularmente na América Latina há muita confusão sobre o que realmente está acontecendo. Acreditamos que seja necessário explicar a nossa posição sobre esta matéria, porque alguns meios de comunicação têm abordado a questão como se o governo de Khadafi fosse um governo revolucionário e estivesse enfrentando uma rebelião orquestrada pelo imperialismo.
O caráter do regime de Khadafi
Longe de ser um governo anti-imperialista, Khadafi compactuou em várias ocasiões com o imperialismo mundial, reunindo-se e assinando acordos com Berlusconi, Sarkozy, Zapatero e Blair. Ele também recebeu visitas do rei espanhol Juan Carlos, representando os empresários da Espanha.
Em 1993-94, Khadafi introduziu as primeiras leis que faziam parte de um giro econômico no sentido da abertura do mercado. Durante uma década, quase nada foi feito nesse sentido. Mas, confrontado com as dificuldades econômicas em 2003, o processo se acelera. Em troca de leis que preparavam as privatizações e uma maior abertura ao investimento de capital estrangeiro, o regime iniciou uma reconciliação com o imperialismo e logo deu resultados.
Em setembro de 2003, a ONU suspendeu todas as sanções econômicas contra a Líbia, em troca de um pacote econômico que incluía planos para privatizar 360 empresas estatais e, em 2006, a Líbia inclusive solicitou a entrada na Organização Mundial do Comércio. Em 2008, a própria Condoleezza Rice (ex-Secretária de Estado dos EUA) disse que a Líbia e os Estados Unidos compartilhavam de interesses comuns, como “a luta contra o terrorismo, o comércio, proliferação nuclear, África, direitos humanos e democracia”.
Hoje, todas as grandes multinacionais do petróleo estão operando na Líbia: a British Petroleum, Exonn Mobil, Total, Repsol, entre outras. Por outro lado, é interessante notar que Khadafi se tornou dono de 5% das ações da Fiat, como resultado da abertura do país para os capitalistas italianos.
Tudo isso deixa claro que este regime está mais próximo dos interesses capitalistas e imperialistas do que dos interesses de seu próprio povo e da revolução...
O caráter da revolta na Líbia
Essa revolta tem as mesmas causas que a da Tunísia e do Egito. O resultado da abertura de acordos de Khadafi com o imperialismo foi um desastre econômico para a maioria da população, apesar da riqueza petrolífera do país. A Líbia é um país com 30% de desemprego e um custo de vida cada vez mais elevado. Alimentos básicos, como arroz, farinha e açúcar encareceram cerca de 85% nos últimos 3 anos. Este é o motivo real que levou à revolta popular que existe na Líbia. Por esta razão Khadafi apoiou Ben Ali e Mubarak contra a insurreição revolucionária do povo da Tunísia e do Egito.
Inspirado por seus irmãos no resto do mundo árabe, trabalhadores, jovens e pobres na Líbia se levantaram contra uma ditadura que revela seu verdadeiro caráter. O levante que começou em Benghazi, a segunda maior cidade do país, tem se espalhado para muitas regiões do território nacional.
Khadafi respondeu com violência brutal, usando o exército contra a população civil desarmada. Além disso, também tem utilizado mercenários contra o povo. O fato de que Khadafi foi forçado a pagar mercenários é a prova de que não confiava em seus próprios soldados. Em Benghazi, o exército passou para o lado do povo e isso tem se repetido em outras cidades. É difícil estimar o número de mortos, mas sabemos que só em Benghazi já foram mortas mais de 230 pessoas. A repressão atingiu um nível tão cruel que foi utilizada a força aérea para bombardear os manifestantes.
Sem dúvida, o imperialismo nessa situação vai tentar fazer valer os seus interesses. Somos contra qualquer intervenção imperialista na Líbia. São justamente os imperialistas que venderam armas a Khadafi, fizeram acordos de negócios para explorar a riqueza petrolífera do país e o utilizaram como uma barreira de contenção contra a “imigração clandestina” na Europa. O imperialismo não está interessado no destino do povo da Líbia, mas apenas nos recursos naturais do país.
Notícias quentinhas....
Crise na Líbia paralisa até 1 mi bpd de produção de petróleo - AIE
REUTERS, 02 de março de 2011
A Agência Internacional de Energia informou nesta quarta-feira que a crise na Líbia paralisou a produção de 850 mil a 1 milhão de barris por dia no país.
De acordo com a AIE, as informações sobre o volume de produção e exportação da Líbia são "incompletas" devido a dificuldades de comunicação e redução de pessoal no país do Norte da África, que é o terceiro maior produtor africano de óleo atrás de Nigéria e Angola.
A Líbia produzia cerca de 1,6 milhão de barris por dia antes do início das revoltas populares contra o governo de Muammar Gaddafi, que está há 41 anos no poder. (Reportagem de Marie Maitre e Muriel Boselli)
Forças de Gaddafi atacam cidade; líder faz alerta na TV
REUTERS, 02 de março de 2011
Forças leais ao líder líbio, Muammar Gaddafi, atacaram nesta quarta-feira uma importante cidade no leste da Líbia, levando os rebeldes a fazer um alerta de que ajuda militar estrangeira pode ser necessária para "colocar o prego no caixão" dele, que está no poder desde 1969.
Em um pronunciamento transmitido pela TV local, Gaddafi disse nesta quarta-feira que milhares de líbios morrerão se os Estados Unidos ou outra potência internacional entrarem na Líbia, e garantiu estar disposto a negociar mudanças constitucionais sem violência.
"Eles querem que a gente se torne escravo outra vez como éramos escravos dos italianos?", disse Gaddafi, referindo-se à colonização italiana do país, situado no norte da África.
"Nunca vamos aceitar isso. Entraremos numa guerra sangrenta e milhares e milhares de líbios morrerão se os Estados Unidos ou a Otan entrarem."
As tropas do governo chegaram a capturar Marsa El Brega, um terminal de exportação de petróleo, mas depois foram rechaçadas pelas forças de oposição que há cerca de uma semana controlam a cidade, 800 quilômetros a leste de Trípoli, segundo representantes dos rebeldes.
O ataque parece ser a operação militar mais significativa por parte de Gaddafi desde o início da revolta, há duas semanas.
AJUDA EXTERNA
Os rebeldes disseram que pretendem pedir ajuda militar estrangeira, um tema sensível para os países ocidentais, desconfortavelmente cientes de que o Iraque sofreu anos de derramamento de sangue e violência da Al Qaeda depois da invasão dos EUA e seus aliados, em 2003, para derrubar o ditador Saddam Hussein.
Não houve confirmação independente dos relatos sobre o conflito em Marsa El Brega, que passou ao controle dos rebeldes em 24 de fevereiro.
"Nós provavelmente iremos pedir ajuda externa, possivelmente bombardeios aéreos em locais estratégicos, para colocar o prego no caixão dele (Gaddafi)", disse à Reuters Mustafa Gheriani, porta-voz da coalizão rebelde 17 de Fevereiro.
"Eles tentaram tomar Brega esta manhã, mas fracassaram. Ela está novamente nas mãos dos revolucionários. Ele (Gaddafi) está tentando criar todo tipo de guerra psicológica para manter essas cidades sob tensão", disse ele.
Há temores de que a revolta, a mais sangrenta da atual onda de rebeliões no Oriente Médio e Norte da África, esteja causando uma grave crise humanitária, especialmente na fronteira com a Tunísia, onde milhares de trabalhadores estrangeiros tentam fugir.
Por toda a Líbia, vários líderes tribais, autoridades civis e comandantes militares debandaram para o lado dos rebeldes e começam a se organizar. O poder de Gaddafi praticamente se restringe a Trípoli.
O capitão rebelde Faris Zwei afirmou à Reuters que há mais de 10 mil voluntários em Ajdabiyah, localidade próxima a Marsa El Brega. "Estamos reorganizando o Exército, que foi quase todo destruído por Gaddafi e sua gangue antes de partirem", disse ele. "Estamos reformando, até onde podemos, o Exército da juventude que participou da revolução."
Reiterando a pressão dos EUA sobre o ditador, tradicional inimigo do Ocidente, a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, disse na terça-feira à rede ABC: "Vamos manter a pressão sobre Gaddafi até que ele saia e permita que o povo da Líbia se expresse livremente e determine seu próprio futuro."
RECEIOS ÁRABES
Ministros de Relações Exteriores da Liga Árabe se reunirão nesta quarta-feira no Cairo para discutir o esboço de uma resolução rejeitando a intervenção militar estrangeira na Líbia, informou o vice-secretário-geral da liga, embaixador Ben Helli.
A mobilização militar dos EUA nos arredores da Líbia é amplamente vista como uma demonstração simbólica de força, uma vez que nem os Estados Unidos nem seus aliados da Otan se mostram dispostos a uma intervenção militar direta.
"Estamos examinando várias opções e contingências. Nenhuma decisão foi tomada", disse o secretário norte-americano de Defesa, Robert Gates, lembrando que a ONU não autorizou o uso da força na Líbia.
A Casa Branca afirmou que os navios estão sendo reposicionados numa preparação para possíveis esforços humanitários, mas destacou que "nenhuma opção foi retirada da mesa".
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, voltou a defender a adoção de uma zona de exclusão aérea para impedir bombardeios do governo líbio contra os rebeldes. Cameron considerou inaceitável que "o coronel possa assassinar seu próprio povo com aviões e helicópteros."
Num tom mais cauteloso, o chanceler francês, Alain Juppé, disse que nenhuma intervenção militar deve acontecer sem um claro mandato da ONU.
A Itália anunciou o envio de uma missão humanitária para a Tunísia, a fim de fornecer alimentos e ajuda médica para mais de 10 mil pessoas que fugiram da Líbia para o país vizinho.
ESTRANGEIROS EM FUGA
O general James Mattis, chefe do Comando Central dos EUA, disse ao Senado de seu país que a imposição da zona de exclusão aérea seria uma operação "desafiadora", que necessariamente resultaria em um ataque.
"Você precisa eliminar a capacidade de defesa aérea (do outro país) para estabelecer uma zona de exclusão, então que ninguém tenha ilusões aqui. Seria uma operação militar - não só dizer às pessoas para que não voem na área."
Na terça-feira, agentes de fronteira da Tunísia fizeram disparos para o alto, na tentativa de controlar uma multidão que tentava deixar a Líbia.
Cerca de 70 mil pessoas passaram pelo posto fronteiriço de Ras Jdir nas últimas duas semanas, e centenas de milhares de outros trabalhadores estrangeiros ainda devem deixar a Líbia.
Nessa passagem entre Líbia e Tunísia, milhares de migrantes de Bangladesh pressionavam os portões do posto fronteiriço, revoltados com a falta de ajuda por parte do seu governo.
Grupos de trabalhadores migrantes da África Ocidental também entoavam palavras de ordem pedindo auxílio, e agitavam as bandeiras de Gana e da Nigéria.
(MARIA GOLOVNINA E MICHAEL GEORGY)
Estados Unidos liderando intervenção??? Novamente???!!!
Depois do povo tunisiano derrubar Ben Ali, os analistas “experts” nos diziam que a revolução não se espalharia até o Egito. Depois que isso aconteceu, estes “experts” não estavam mais certos sobre o que poderia acontecer na seqüência.
Já tivemos poderosos movimentos na Jordânia e no Iêmen, assim como grandes protestos na Argélia e em outros países. Agora é a vez da Líbia e do Bahrein, assim como o Iraque, enquanto o Iêmen está pegando fogo novamente.
Realmente...essas revoluções e protestos estão apenas começando...
É fundamental ir acompanhando o desenvolvimento dos acontecimentos...
“A leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede."
Carlos Drummond de Andrade